Solenidade da Santíssima Trindade – Ano C

Leitura do Livro dos Provérbios (Prov 8, 22-31)

Ideia principal: A criação não é obra do acaso… é fruto de um projecto pensado “antes das origens mais antigas”, que Deus Pai executa com sabedoria e amor.

– O texto dos Provérbios que escutamos hoje, na Solenidade da Santíssima Trindade (Pr 8,22-31), tem sido muito discutido e estudado por causa da personificação da sabedoria que, na leitura cristã do texto, é figura de Cristo e também de Maria. Os Padres da Igreja veem aqui uma primeira luz da revelação do mistério da Trindade: A sabedoria tem primazia sobre a criação, é preexistente e substância de Deus.

– A sabedoria, “cheia de júbilo”, revela a ordem e a beleza presentes na criação, que permitem ao homem conhecer o Criador através das Suas criaturas. O autor sagrado, ao dizer que a sabedoria tem origem em Jahwéh, que está em íntima relação com Ele e se destina aos homens, está a sugerir que ela, presente desde sempre na criação, revela aos homens a grandeza e o amor do Deus criador.

– Como “arquitecto” sempre ao lado de Deus, a sabedoria também se deleitava sobre a face da terra e as suas delícias eram estar com os filhos dos homens (cf. vs 30 e 31)… convidemo-la então a sentar-se na cátedra que lhe é mais grata: o nosso coração! E assim, graças à “sabedoria do coração”, também os filhos dos homens, poderão, ao menos, espreitar os confins inacessíveis do mistério de Deus trino e uno.

Rezar a Palavra e contemplar o Mistério

Ó Deus, por pura graça Te deixas entrever, como em contraluz, no Teu mistério trinitário… Ó Sabedoria infinita, que és Deus: Pai, Filho e Espírito Santo! No Teu rosto contemplo o Espírito Santo, mas és Tu, Sabedoria encarnada, a revelação do Filho por quem vamos ao Pai, criador providente; pela harmonia e beleza das criaturas o homem é capaz de Deus. A Ti, Deus criador, toda a honra e toda a glória! Amem.

LEITURA I – Prov 8, 22-31

Eis o que diz a Sabedoria de Deus:
«O Senhor me criou como primícias da sua actividade,
antes das suas obras mais antigas. Desde a eternidade fui formada,
desde o princípio, antes das origens da terra.
Antes de existirem os abismos e de brotarem as fontes das águas,
já eu tinha sido concebida. Antes de se implantarem
as montanhas e as colinas, já eu tinha nascido;
ainda o Senhor não tinha feito a terra e os campos,
nem os primeiros elementos do mundo.
Quando Ele consolidava os céus, eu estava presente;
Quando traçava sobre o abismo a linha do horizonte,
quando condensava as nuvens nas alturas,
quando fortalecia as fontes dos abismos, quando impunha ao mar
os seus limites para que as águas não ultrapassassem o seu termo,
quando lançava os fundamentos da terra,
eu estava a seu lado como arquitecto, cheia de júbilo, dia após dia,
deleitando-me continuamente na sua presença.
Deleitava-me sobre a face da terra
e as minhas delícias eram estar com os filhos dos homens».