Igreja do Santíssmo Sacramento

A Nova Igreja

O autor do projecto da igreja foi o Arquitecto Remígio Francisco de Abreu, da Escola de Mafra. A fachada, organizada por três corpos definidos por pilastras de cantaria, dá para um pequeno adro delimitado por uma balaustrada de pedra e por um gradeamento com três portões, um deles interior. O acesso à porta principal é feito por dois lances de escada. Um frontão com um ostensório em relevo remata o elaborado emolduramento da porta principal. Este corpo principal é rasgado por três janelões com varandins protegidos com grade de ferro fundido, ladeados por duas janelas rectangulares. Sobre o janelão central existe um óculo com vitral. Cada um dos corpos laterais apresenta-se vazado por uma janela quadrada e por um óculo. O conjunto da fachada é rematado por um frontão triangular coroado por um plinto que sustenta uma cruz de ferro forjado, ladeado por fogaréus nos acrotérios.

A igreja é ainda iluminada através de grandes aberturas envidraçadas situadas entre a abóboda da capela-mor e o friso da arquitrave, bem como por três janelões, voltados a sul, rasgados junto da abóboda da nave, sobre cada um dos três altares laterais.

Na mesma data ficaram também concluídos o tecto da capela-mor, os ornatos dos tectos, e a pintura das salas das tribunas, das escadas que lhes dão serventia, o tecto debaixo do coro e das sacristias, adjudicados ao mais conhecido dos discípulos de Pedro Alexandrino, o pintor José António Narciso. Infelizmente nada resta da pintura original das salas das tribunas, nem das escadas de acesso. À entrada da igreja, no mural do tecto do nartex, lê-se a inscrição «Haec Porta Domini Iusti Intrabunt in Eam» (Esta é a porta do Senhor, por ela entrarão os justos).

Os autores do retábulo do baptistério e da pintura representando a Ceia de Cristo, actualmente na sala da tribuna do lado norte, são desconhecidos.

Ao canteiro Sebastião Alves, artífice de grande nomeada, foram adjudicados todos os trabalhos em pedra, executados entre 1801 e 1807. Foi ainda este mestre canteiro quem, mais tarde, executou o altar da Senhora da Soledade, também designado por altar da porta travessa, por tapar a porta lateral que dava para o pequeno logradouro do lado sul da igreja, que já referimos. Refira-se que o retábulo deste altar foi pintado apenas aquando da importante campanha de obras que obrigou ao encerramento da igreja entre Junho de 1872 e Setembro de 1873, pelo pintor António Manoel da Fonseca, que na ocasião fez o restauro de todas as pinturas da igreja.

Nos trabalhos em pedra referidos, não se inclui a magnífica balaustrada do corpo da igreja, em pedra lioz, executada pelos artistas canteiros António Moreira Rato Irmão, em 1855.

O azulejo que se encontra actualmente na fachada principal com a inscrição: «Bemdito e louvado seja o Santíssimo Sacramento da Eucharistia. Qve he Nosso Senhor Jesus Christo Deus e Homem verdadeiro Filho da Virgem Maria.» é de todos o mais conhecido. Mas são várias as dependências da igreja decoradas com vistosos azulejos do final do século XVIII início do século XIX, ou seja, da época da reconstrução da igreja.

Merecem ainda referência as seis lanternas de prata pendentes do tecto em frente de cada um dos altares laterais: pesam, no conjunto, 36 quilos e são obra do ourives da prata Luís José Pereira, com ele ajustada em 1819. As duas lanternas também em prata, que pendem à entrada da capela-mor, são posteriores e desconhece-se o artífice que as fabricou. Ainda no que diz respeito à ourivesaria, refira-se a cruz e as seis lanternas processionais e, sobretudo, a custódia em prata dourada, com cerca de 1 metro de altura e com mais de 15 quilos de peso.

A igreja é barroca, de uma só nave, e nela abundam os mármores o lioz, abancado as colunas da capela-mor), o vidraço encarnado e o roxo, todos da região de Sintra, e e o cinzentos de trigache, do Alentejo. Além do altar-mor, onde se encontra o sacrário, possui 8 altares laterais em pedra. Dois deles estão junto do arco da capela-mor, e os restantes no corpo da igreja, delimitados por balaustradas em madeira de excelente qualidade que formam um belo conjunto com a magnífica a teia da capela-mor.

Em 1798 foram adjudicados ao pintor Pedro Alexandrino de Carvalho o telão que tapa a boca do trono, os retábulos dos altares laterais - todos excepto o do altar mais próximo do baptistério onde, até 1807, havia uma porta lateral - e as oito telas da capela-mor. Alguns dos retábulos estão assinados e datados (P.Alex -1801), sendo que o telão tem a data de 1802. Pedro Alexandrino é ainda o autor do medalhão central do tecto da nave e das figuras de anjos presentes em todo o conjunto. O pintor concluiu este trabalho em 1805.

O trono da igreja, feito para a exposição solene do Santíssimo Sacramento, habitualmente escondido pelo enorme telão com uma representação da Última Ceia, já anteriormente referido, é uma magnífica peça em talha dourada. Desconhece-se o nome do entalhador.

No coro alto encontra-se um órgão construído em 1817 por António Xavier Machado e Cerveira, construtor dos órgãos da maior parte das igrejas de Lisboa reconstruídas após o terramoto. O órgão, de 1063 tubos, tem a seguinte inscrição: «António Xavier Machado e Cerveira em Lisboa em o ano de 1817 – Nº 83».

As obras da reconstrução da igreja estiveram várias vezes quase interrompidas. Decorreram ente 1772 e ficaram totalmente concluídas em 1822. Porém, bastante antes, a 5 de Abril de 1807, teve lugar a solene Dedicação da igreja, cerimónia a que presidiu por D. Luís de Castro, Bispo de Cuiabá, com demissórias do Eminentíssimo Cardeal-Patriarca, D. José de Mendóça, com a participação das Irmandades do Santíssimo das Paróquias vizinhas e muito povo. Era Prior o Pregador Régio Padre João Mourão, e Juiz da Irmandade o Padre Francisco Xavier da Cunha Torel. Por despacho Patriarcal a festa da Dedicação da igreja foi fixada no dia 28 de Setembro.

Na torre sineira, construída nas traseiras da igreja, mas separa desta, no lado norte, foram aplicado o relógio e adaptados os sinos provenientes do Convento da Trindade, após a expulsão das Ordens Religiosas e consequente alienação dos seus bens, em hasta pública, o que sucedeu em 1836.

Um ano após a Dedicação da igreja, uma nova catástrofe… as invasões franceses! Em Fevereiro e Março de 1008 a Irmandade foi espoliada de toda a prata, a que se havia salvo do incêndio que se sucedeu ao terramoto e daquela que, entretanto se havia adquirido, pesando no total cerca 118 quilos. A igreja foi mesmo profanada pelos homens de Junot que mataram vários populares que se haviam refugiado no templo depois de terem tomado parte numa manifestação anti-francesa.

Os dois pisos do edifício anexo à igreja, existentes sobre o espaço que serviu de igreja paroquial e seus anexos, foram construídos entre 1822 e 1847. A morosidade ficou a dever-se à falta de meios que obrigou à interrupção da obra por várias vezes. É desta altura a construção da torre sineira, separada da igreja. Na torre foi aplicado o relógio e foram adaptados os sinos provenientes do Convento da Trindade, após a expulsão das Ordens Religiosas.