Convocados para o Sínodo
D. Manuel Clemente apresenta Sínodo Diocesano de 2016
O Domingo da Santíssima Trindade, em que se celebra o Dia da Igreja Diocesana, no passado dia 15 de Junho, foi a data escolhida para marcar o inicio da caminhada sinodal que terá como lema: “O sonho missionário de chegar a todos”. A celebração decorreu na Igreja da Boa Nova, no Estoril. O Senhor Patriarca de Lisboa apresentou o programa pastoral “que a todos empenhará até ao final de 2016”, referiu.
Caríssimos diocesanos
Em Domingo da Santíssima Trindade, celebramos o Dia da Igreja Diocesana, na etapa conclusiva do ano pastoral e anunciando já o próximo.
Fazemo-lo neste Domingo, que nos concentra no essencial da fé cristã, retomando-nos no amor criador do Pai, na vida que nos proporciona em Cristo e no amor do Espírito, que nos faz participar da convivência divina. A revelação do Deus uno e trino é fundamental para compreendermos a verdade da Igreja, como união de vários, e o destino do mundo na comunhão de todos. Para partirmos sempre daqui e aqui mesmo chegarmos: a unidade não é o isolamento, mas a comunhão.
No momento atual, é particularmente necessário que a Igreja diocesana e todas as realidades eclesiais que nela se localizam (paróquias, institutos religiosos e seculares, associações e movimentos) aprofundem em si mesmas esta comunhão básica e expansiva, que explica o ser Igreja e o seu dever ser para o mundo, como sinal e instrumento da comunhão a realizar. Na situação sociocultural que vivemos e tantos particularmente sofrem, redobra a importância do que nos disse o Concílio Vaticano II, num trecho nunca por demais citado: «A luz dos povos é Cristo: por isso, este sagrado Concílio, reunido no Espírito Santo, deseja ardentemente iluminar todos os homens com a sua luz que resplandece no rosto da Igreja, anunciando o Evangelho a toda a criatura, e […] propõe-se declarar, com maior insistência, aos seus fiéis e ao mundo inteiro, a natureza e a missão universal da Igreja que, em Cristo, é como que o sacramento ou sinal e instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano». E o Concílio continua, com uma afirmação que, cinquenta anos depois, ainda parece mais atual e premente: «As condições deste tempo tornam maior a urgência deste dever da Igreja, a fim de que todos os homens, hoje mais intimamente unidos por toda a espécie de vínculos sociais, técnicos e culturais, alcancem a unidade total em Cristo» (Lumen Gentium, 1).
Na continuação do Ano da Fé, dedicámos a programação diocesana de 2013 – 2014 à sua decorrência obrigatória, com o lema paulino «a fé atua pela caridade». Agradecendo ao Departamento da Pastoral Sociocaritativa a ação despendida para reforçar na diocese esta dimensão essencial e permanente duma vida “cristã” propriamente dita, estou certo de que nada se perderá do impulso recebido e tudo se fará para o manter vivo e ativo nas comunidades e instituições.
As grandes dificuldades que persistem na sociedade portuguesa, no campo socioeconómico e do trabalho, levam-nos a redobrar os esforços para estarmos presentes e solidariamente comprometidos. É muito especialmente aí que nos revelamos e oferecemos como Igreja de Cristo, e seu “corpo” ativo ao serviço dos pobres.
O ser e o acontecer da Igreja no mundo e para o mundo constituem o ponto essencial de reflexão e celebração neste Dia da Igreja Diocesana e igualmente da caminhada sinodal que iniciamos. Com o programa – calendário diocesano agora distribuído, vai também o “guião zero”, com a informação necessária sobre os objetivos e os métodos dessa caminhada, que a todos empenhará até ao final de 2016, data em que se comemoram três séculos da qualificação patriarcal de Lisboa – ligada então, pelo Papa Clemente XI, ao esforço na propagação da fé.
Agradeço à comissão preparatória do Sínodo Diocesano o trabalho feito e agora oferecido com este guião, bem como os guiões que se seguirão, trimestre a trimestre, para apoiar a reflexão e ensaio que, sem dispensar o compromisso geral e de cada um, passarão necessariamente pelas comunidades cristãs da Diocese.
Na verdade, é o próprio Papa Francisco, grande motivador do caminho que seguiremos, a indicar o objetivo e a base da ação. Quanto ao primeiro, expressa-se como «sonho missionário de chegar a todos» (Evangelii Gaudium, 31). Quanto à segunda, escreve também: «Cada cristão e cada comunidade há de discernir qual é o caminho que o Senhor lhe pede, mas todos somos convidados a aceitar esta chamada: sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho» (EG, 20).
A vários níveis se levará por diante tal desiderato. Na sequência do que vos disse na Missa Crismal deste ano, o caminho sinodal percorrerá capítulo a capítulo e tempo após tempo, a exortação apostólica do Papa Francisco, juntando reflexão e ensaio missionário. Surgirão novidades certamente. Mas o mais que se fará é alargar criativamente o âmbito e a incidência do que normalmente se faz, pessoalmente e nas famílias, nas comunidades e nos departamentos diocesanos, para chegar mais longe no anúncio evangélico e mais fundo no seu alcance.
Ao Papa, que tem este desígnio tão entranhado que lhe brotam constantemente as referências, devemos não só a indicação mas também a sugestão de como senti-la e ativá-la. Incluo apenas algumas referências mais próximas, particularmente motivadoras para o nosso caminho sinodal (cf. L’Osservatore Romano, edição portuguesa, 22 de maio de 2014, p. 10-11):
Como quando fala da transcendência da evangelização, enquanto saída de si próprio, em movimento interior para Deus e exterior para os outros: «Para mim, a evangelização exige sair de si mesmo; requer a dimensão do transcendente: o transcendente na adoração de Deus, na contemplação, e o transcendente para com os irmãos, para com o povo. Sair de si, sair!».
Explicitando depois o que entende por esta “saída”: «Sair significa chegar, ou seja, proximidade. Se não saíres de ti mesmo, não terás proximidade! Proximidade, estar próximo das pessoas, próximo de todos aqueles de quem devemos estar próximos».
Saída que tem como alvo as periferias, palavra que o Papa repete insistentemente: «Outra categoria que gosto de usar é das periferias. Quando se sai não se deve chegar só a meio caminho, mas ir até ao fim. Alguns dizem que se deve começar a evangelização pelos mais distantes, como fazia o Senhor…».
Julgo que estas duas palavras – saída e periferias – podem e devem caracterizar todo o nosso caminho sinodal. A saída em relação a Deus, na oração, e a saída em relação aos outros, na ação, estimulam-se mutuamente, pois quem se aproxima de Deus descobre e aprofunda o amor divino por todas as suas criaturas, isso mesmo que é a caridade. Não caminharemos em sínodo, se não ligarmos oração e ação, mais e mais, como em Jesus acontecia totalmente, sempre com o Pai e sempre para os outros.
As periferias como alvo, também se tornam critério principal. – Na minha família, no meu prédio, na minha rua, quem está mais só, mais afastado ou esquecido? – Na minha escola, na minha empresa, seja onde for, quem está mais isolado, menos acompanhado ou pouco atendido? – Na sociedade, na economia, na cultura, quem está mais “longe”da verdade evangélica das coisas, por omissão sua ou nossa?
Não há neste ponto hipótese alguma para recuos ou alheamentos. Vale especialmente aquela reflexão de Paulo VI, num documento que continua a ser fundamental para a missão e a nova evangelização: «Não deixaria de ter a sua utilidade que cada cristão aprofundasse na oração este pensamento: os homens poderão salvar-se por outras vias, graças à misericórdia de Deus, se nós não lhes anunciarmos o Evangelho; mas nós poder-nos-emos salvar se, por negligência, por medo ou por vergonha, […] ou por se seguirem ideias falsas, deixarmos de o anunciar?» (Exortação apostólica Evangelii Nuntiandi, 80).
Caríssimos diocesanos de Lisboa: Iniciemos a caminhada sinodal com a convicção reforçada de que passa por cada um de nós, no variado ser e acontecer da Igreja de Cristo, a resposta de Deus a este mundo que tanto sofre, mas sempre espera. Redescubramo-nos eclesialmente em Maria, que se dispôs a dar-nos Cristo, em plena confiança n”Aquele que faz maravilhas na humildade de quem O serve.
+ Manuel Clemente, Patriarca de Lisboa
“O sonho missionário de chegar a todos”
Papa Francisco, Evangelii Gaudium nº 31
– O que é um Sínodo?
A palavra tem origem no grego “synodos” e significa: caminho feito em conjunto. Foi traduzida para o latim como “concilium”, que quer dizer: assembleia. O Sínodo Diocesano é uma assembleia que reúne leigos, consagrados e sacerdotes dessa Igreja particular, escolhidos para auxiliar o Bispo Diocesano no exercício da sua função, para o bem de toda a comunidade cristã. É um caminho de reflexão, avaliação, renovação, planeamento e programação, feito em conjunto, com a participação de todos.
– O porquê de um Sínodo?
A inspiração para a realização de um Sínodo em Lisboa nasce como acolhimento e resposta à Exortação Apostólica do Papa Francisco, ‘A Alegria do Evangelho’ (publicada a 24 de novembro de 2013), um programa de missão geral e evangelizadora, em estreita sintonia com o processo de renovação da pastoral da Igreja em Portugal, a que fomos recentemente convidados. O Sínodo acontece no contexto da celebração dos três séculos sobre a qualificação patriarcal de Lisboa, que ocorrerá em novembro de 2016. A sua preparação, a começar já, envolve-nos a todos num processo de discernimento, purificação e reforma, que, como diz o Papa, “não pode deixar as coisas como estão”. Neste sentido, o nosso Bispo a todos quer escutar e convidar a vivermos em estado permanente de conversão e missão.
– A caminhada pré-sinodal
Se queremos mudar o mundo, comecemos por nós próprios, pelas nossas famílias, grupos cristãos, comunidades religiosas, movimentos, associações, paróquias, diocese… Enquanto caminhamos em comunhão rumo ao Sínodo, deixemo-nos interpelar-transformar por Jesus Cristo, pela Palavra de Deus e pelos sacramentos, pelos acontecimentos do nosso tempo e pelas pessoas em quem Jesus vem ao nosso encontro. Ousemos fazer uma revisão pessoal-comunitária de vida e deixarmo-nos abraçar por Deus e pela Igreja de Lisboa; dialoguemos, debatamos, aprofundemos sempre mais as razões da nossa fé e interpelemos o Sínodo com novas propostas para os seus desafios atuais; concelebremos a vida humana e a vida de Deus em nós, nos outros e na História; testemunhemos a alegria e a beleza de sermos discípulos e apóstolos de Jesus Cristo, hoje; comprometamo-nos com quem mais necessita na partilha de dons, competências e tempo; e… participemos, todos, neste itinerário.
– O que se pretende?
Tempo de oração: o “segredo” para que o Sínodo seja um autêntico evento de graça para a Igreja de Lisboa é a oração. Rezemos, desde já, pelos bons frutos do Sínodo; tempo de formação, reflexão e partilha: a partir de “A Alegria do Evangelho”, a Igreja de Lisboa é chamada a perscrutar os desafios pastorais atuais para que, em escuta e resposta à Palavra de Deus, à Igreja e ao Mundo, possa ser fiel, credível e próxima, hoje. Tempo de ensaio de iniciativas pastorais de âmbito missionário: «Ensaio de modos e meios de projeção missionária de cada comunidade – paróquias, institutos, famílias e todas as formas agregativas da vida cristã –, local a local, ambiente a ambiente, processo a processo». (D. Manuel Clemente, homilia da Missa Crismal, 2014)
– Metodologia
No início de cada trimestre receberemos um guião que orientará a nossa caminhada sinodal e constará de oração, leitura e reflexão pessoal, diálogo comunitário, compromisso e celebração. Em cada etapa (trimestre), após o trabalho pessoal, somos convidados a reunirmo-nos em grupo (existente ou a constituir para o efeito) para a oração, o estudo, a partilha e a missão. Procuremos envolver todas as “forças vivas” do Patriarcado de Lisboa: comunidades paroquiais, institutos de vida consagrada e sociedades de vida apostólica, movimentos, associações e grupos eclesiais, institutos de formação e educação (seminários, universidades e escolas), famílias, instituições… No final de cada etapa, cada grupo enviará o contributo da sua reflexão e ensaio para o Secretariado do Sínodo. Este tratará toda a informação e preparará o documento de trabalho ou “Instrumentum Laboris” para a Assembleia Sinodal. Cada etapa deste caminho culminará num momento alto do ano litúrgico e pastoral: o 1.º trimestre conduzir-nos-á ao Natal; o 2.º, à Páscoa; o 3.º, no final do ano pastoral, congregar-nos-á no Dia da Igreja Diocesana. Localmente, e para marcar o ritmo sinodal, cada comunidade pode enriquecer esta caminhada da seguinte forma: ensaiando novas formas de missão e valorizando celebrações e eventos significativos.
– As etapas
A caminhada de preparação para o Sínodo decorrerá ao longo dos próximos dois anos pastorais: 2014-15 e 2015-16. Em cada trimestre seremos conduzidos por um dos capítulos da Exortação Apostólica “A Alegria do Evangelho”
De set. a dez. de 2014
“A transformação missionária da Igreja”
De jan. a mar. de 2015
“Na crise do compromisso comunitário”
De abr. a jun. de 2015
“O anúncio do Evangelho”
De set. a dez. de 2015
“A dimensão social da evangelização”
De jan. a mar. de 2016
“Evangelizadores com Espírito”
No último trimestre do ano pastoral 2016 (de abril a junho) construir-se-á o documento de trabalho sinodal [“Instrumentum Laboris”], a partir das reflexões feitas nos trimestres anteriores. Toda esta caminhada guiar-nos-á à Assembleia Sinodal, que se realizará em novembro de 2016.