Homilia do Prior na Festa da Padroeira
Meus irmãos,
Na meditação do sexto dia da secular Novena, através da qual, em cada ano, preparamos espiritualmente a Festa da nossa Padroeira, o autor faz uma aplicação das palavras dirigidas por Deus ao Rei Salomão, conforme ouvimos na Primeira Leitura da Missa: «Salomão não se esmerou mais na construção do Templo de Jerusalém, do que D. Afonso Henriques na construção desta igreja, que foi santificada pela Presença Real de Cristo na Santíssima Eucaristia e engrandecida com a sagrada imagem de Sua Mãe, Nossa Senhora». Há, porém, enorme diferença: A Salomão, Deus manda que pratique tudo o que Lhe ordenou, ou seja, observe os mandamentos; a nós, dá-nos Cristo sacramentado e a presença amorosa de Maria.
Decorrem, em Roma, os trabalhos do Sínodo Extraordinário sobre a Família, alvo de um interesse desusado por parte dos mídia. Entre nós, no Patriarcado, estamos na 1ª etapa de preparação do Sínodo Diocesano, que deverá realizar-se em Novembro de 2016. Intui-se que há coisas que estão ou vão mudar na Igreja. Em tempos de mudança, a tentação da mundanização é fortíssima. Porém, a mudança desejável não é aquela ditada ou influenciada por critérios mundanos, mas a que vai no sentido da refontalização e nos comprometa numa mudança pessoal. Uma vez alguém insistiu com a beata Madre Teresa de Calcutá para que dissesse qual deveria ser, na sua opinião, a primeira coisa a mudar na Igreja. A sua reposta foi lacónica e pronta: “tu e eu!”.
Estamos aqui atraídos por esta terna Mãe que quer conduzir cada um de nós pelo árduo caminho da fidelidade ao Evangelho: instruídos na Sua escola, alimentados com o Seu leite materno, conduzidos pelo Seu exemplo, sustentados pelo Seu braço e confiados à Sua protecção, alcançaremos aquilo que Ela tanto deseja para os seus filhos: a graça da pertença a Cristo! Nesta pertença seremos aquilo que devemos ser: «Vós sois luz do mundo! (cf Mt 5, 13).
Tal como Maria, modelo de todo o discípulo, imersos em Cristo, fulgor eterno, somos luz nas trevas! Tristemente há baptizados onde a Luz não refulge, porque colocada sob o alqueire!!! Baptizados que, em vez de se aplicarem a salvar os outros, permitem que o alqueire da incredulidade dos outros abafe aquela Luz que deveriam irradiar.
Vem a propósito o ensino de São João Crisóstomo (345-407), numa das suas homilias sobre os Actos dos Apóstolos: «Não há nada mais estranho que um cristão que não se aplica em salvar os outros. Não podes argumentar sobre isto com o pretexto da pobreza: a viúva que deu as suas duas moedinhas levantar-se-ia para te acusar (Lc 21,2). Pedro também, pois dizia: «Não tenho ouro nem prata» (Act 3,6). Assim como Paulo, que era tão pobre que frequentemente passava fome e carecia de bens necessários (1Cor 4,11). Também não podes objectar com o teu nascimento humilde: também eles eram de modesta condição. A ignorância não te será melhor desculpa: também eles eram iletrados […]. Não invoques igualmente a doença: Timóteo era dado a frequentes indisposições (1Tim 5,23) […]. Qualquer um pode ser útil ao seu próximo se quiser fazer aquilo que lhe for possível».
Maria Santíssima, atraiu-te para te educar. E com todos aqueles que atrai, a Mãe constrói a Sua paróquia. Paróquia de Nossa Senhora dos Mártires: não porque A escolhemos para orago, mas porque a Senhora dos Mártires nos escolheu a nós.
O Código de Direito Canónico determina que, regra geral, a paróquia seja territorial e englobe todos os fiéis que residem num território geograficamente definido; mas prevê também a existência de paróquias pessoais, determinadas, por exemplo, pela língua ou nação de origem. Temos já ali a vizinha paróquia italiana do Loreto, uma paróquia pessoal cujos paroquianos são os fiéis italianos residentes em qualquer região de Portugal. O Código não o prevê, mas a prática, não raro, acaba por determinar situações novas… Os Mártires são desde há muitos séculos uma paróquia pessoal de Nossa Senhora, constituída por aqueles que Ela escolhe e forma. Agora, somos nós a paróquia de Nossa Senhora!
Uma paróquia com algumas particularidades… Não damos prioridade a um dinamismo de saída para ir ao encontro das periferias. A nossa missão é acolher as periferias que vêm ter connosco. Apontemos quais são:
– Os turistas e os forasteiros que chegam atraídos pela beleza da basílica;
– Os peregrinos de Compostela que por aqui passam a fim de obter o passaporte que lhes recorde para a vida o “caminho” que fizeram;
– Os pais que nos procuram por causa da Escola Paroquial, uma escola de excelência onde a mensalidade das crianças é simbólica;
– Os coralistas que querem ter o previlégio de cantar neste templo com condições acústicas de excepção e um órgão fantástico;
– Os investigadores que querem consultar o Arquivo;
– Os pobres que nos batem à porta, ignorando que “nem tudo o que brilha é ouro” e que as possibilidades materiais da paróquia não correspondem ao seu esplendor;
– Os devotos, muitos com uma fé pouco esclarecida, do nosso “exército” de santos, capitaneados por São Judas Tadeu e Santo Expedito;
– E até os doentes e os aflitos que através do “SOS Oração”, encontram quem os escute, quem reze por eles e com eles e lhes dirija uma palavra amiga.
Perguntamo-nos e queremos perguntar-vos, já que a Mãe conta com o zelo, a dedicação e a criatividade dos Seus paroquianos:
– Como “primeirear” no acolhimento pastoral destas periferias que nos entram casa adentro?
– Como havemos de nos “envolver”, até contrair o “cheiro de ovelha”, sobretudo com os mais vulneráveis: os pobres e os “praticantes” da religiosidade popular?
– Como “acompanhar”, com paciência e caridade, os que têm processos mais demorados – porque pensam que tudo sabem – , como a gente da “cultura” e alguns dos pais das nossas crianças?
– Como anunciar a Palavra de forma a que os frutos surjam, e como cuidar do trigo sem cair em alarmismos por causa do joio que sempre acompanha a acção apostólica?
– Como “festejar” as coisas que acontecem e os frutos que surgem, mesmo aqueles que nos parecem imperfeitos ou defeituosos? Como fazer da nossa liturgia uma festa?
Depois de identificarmos as periferias e destas perguntas que procuram resposta dos paroquianos, incluindo aqueles que estão nas Irmandades. Prossigamos na caracterização da paróquia…
Como a paróquia é de Nossa Senhora, acontecem coisas que só d’Ela poderiam partir… Quem acreditaria que, em tão curto espaço de tempo, e partindo de onde partimos, fosse possível o restauro da Basílica, a remodelação da Residência Paroquial e a reabilitação, já em fase adiantada, do prédio da Escola?
Se é espantosa a realização de tão avultada campanha de obras, que dizer, então, da Adoração em permanência vai já para um ano… Donde partiu? Nossa Senhora entende que a prioridade, na Sua paróquia, é ensinar a orar, e que a Adoração é a trave mestra que tudo sustenta. Por isso escolheu duas das suas paroquianas para a organizarem e elas estão a fazê-lo, a pouco e pouco, até agora por períodos de um mês. Os adoradores estão a aparecer e a expectativa é que possa continuar. Vamos a ver…
A Adoração faz germinar outras actividades, qual raiz de uma planta que, quanto mais oração tem, mais cresce e se desenvolve. Nós devemos criar as condições que permitam que raiz se expanda e se fortifique, para que planta não venha a ser como uma cana agitada pelo vento e os seus frutos sejam bons na aparência e no sabor. É natural que, também para os compromissos eclesiais mais importantes, os da defesa da vida e apoio à família, seja na oração que encontramos força e inspiração.
Um grupo de Adoradores quer levar a sério o desafio que o Papa Emérito Bento XVI deixou em Fátima na sua memorável visita realizada em 2010: “Possam os sete anos que nos separam do centenário das Aparições apressar o anunciado triunfo do Coração Imaculado de Maria para glória da Santíssima Trindade”. Como? Querem, imaginem, mudar Portugal a partir da nossa capela da Adoração, implementando nas paróquias um “movimento” assente em sete pilares:
1) Celebração da santa Missa em reparação dos atentados à vida humana perpetrados pelos portugueses, no passado e no presente: cruzadas, inquisição, guerras coloniais, abortos, … e outras ofensas a Nosso Senhor.
2) Adoração Eucarística, dando cumprimento ao apelo de 2007, da Congregação para o Clero, no sentido de ser incrementada a Adoração Eucarística, e fazer dela o suporte da acção pastoral nas paróquias, recomendando aos adoradores que tenham Portugal presente nas suas intenções diante do Santíssimo.
3) Terço diário, oferendo-o também pela santificação de Portugal.
4) Devoção dos cinco primeiros sábados, pelo Triunfo do Imaculado Coração de Maria, pedida por Nossa Senhora à Irmã Lúcia.
5) De tudo o que puderdes… conforme a recomendação do Anjo aos Pastorinhos, oferecer a Deus sacrifícios, em acto de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido, e súplica pela conversão dos pecadores e para atrair a paz para a nossa Pátria.
6) Terço da Misericórdia de preferência às 15h, com o intuito de abrir para o nosso País os canais da Divina Misericórdia
7) Entronização doméstica dos Sagrados Corações de Jesus e de Maria, como uma bênção para famílias, indispensáveis à resconstrução de Portugal
Os pilares são bastante decalcados na Mensagem de Fátima. Atendendo à ligação entre as Aparições de Nossa Senhora em Fátima e o culto que esta Sua paróquia Lhe presta, dede a sua criação em 1147, prestado ao longo de muitos séculos, é bem possível que este “movimento” tenha por detrás a ousada criatividade de Nossa Senhora, assimilada pelos adoradores em horas e horas passadas diante do Santíssimo. O tempo e os “sinais dos tempos” ajudarão no necessário discernimento.
E aqueles nosso irmãos que, distraídos, têm resistido ao poder de atração de Nossa Senhora? Aquelas periferias das quais devemos ir ao encontro…
– A mando deNossa Senhora já rezamos eles na oração comunitário do serão do dia 2 de cada mês.
– Cada um de nós não se pode dispensar de estar atento e ir ao encontro das suas próprias periferias, na família, no trabalho, no prédio. Nossa Senhora não pretente que o nosso campo de apostolado se confine à Sua paróquia.
– Nossa Senhora criou já umas “forças de elite” para o apostolado de rua: O “Presépio na Cidade” que daqui irradia no Natal de cada ano; a “comunidade Emanuel” que, com alguma regularidade, evangeliza a partir da basílica; os jovens e sacerdotes da “Aliança da Misericórdia” que, através da oração e da acção apostólica junto das periferias mais periféricas, estão connosco cada Quarta-Feira; a ACISJF – Associação Católica Internacional ao Serviço da Juventude Feminina que, através da “Cantina das Freiras” acolhe diariamente para o almoço, num ambiente cristão sem proselitismos, dezenas de jovens estudantes e outras pessoas que trabalham no Chiado; A Ordem Terceira de São Francisco da Cidade, que através de um modelar Lar para Idosos e de um Hospital de referência, dão rosto à “ousadia da caridade” que abre caminho ao anúncio e concretiza a Palavra anunciada.
A basílica está particularmente bela neste dia da Festa. Mas esta comunidade que Nossa Senhora congregou à Sua volta também está ornada das coisas lindas, caldeadas com dificuldades e muitas provações que a Mãe, para nos educar, vai permitindo.
Neste tempo de preparação para o Sínodo Diocesano – que, certamente, conta com o contributo desta paróquia tão diferente na sua o origem e na sua acção pastoral – a homilia da missa da Festa pretende suscitar a vossa reflexão e os vossos comentários, que podeis enviar por escrito para o endereço bas.martires@sapo.pt ou entregar no Acolhimento Paroquial.
Continuemos a nossa celebração, dando graças Deus pela Senhora dos Mártires que nos chamou a fazer parte da Sua paróquia.
A homilia da missa da Festa pretende suscitar a vossa reflexão e os vossos comentários, que podeis enviar por escrito para o endereçobas.martires@sapo.pt ou entregar no Acolhimento Paroquial.