Leitura do Primeiro Livro de Samuel (1 Sam 26, 2.7-9.12-13.22-23)
Ideia principal: A liturgia deste domingo convida-nos a pôr de lado a lógica da violência e a substituí-la pela lógica do amor, de um amor… até ao fim!
– A primeira leitura, do I Livro de Samuel, apresenta-nos David como exemplo de um homem de coração magnânimo; teve oportunidade de eliminar o seu inimigo, o rei Saul, porém, perdoou-lhe. O Evangelho (Lc 6, 27-38) reforça este apelo ao perdão, sempre! Os seguidores de Jesus devem ter um coração disponível para perdoar, para acolher, para ajudar… devem ver em cada homem – mesmo no inimigo – um seu irmão.
– O I e o II Livro de Samuel abrangem um período que vai desde a unção do rei Saul (1030 a.C.), à morte do rei David (970 a.C.). Embora fazendo parte do conjunto dos Livros Históricos, a preocupação dos autores deuteronomistas não é a História, mas a catequese… no episódio hoje narrado, a intenção é apresentar David como o rei ideal, corajoso mas de coração magnânimo, o protótipo do homem que não se afasta dos caminhos de Deus, que pela sua misericórdia atrai para si e para o Povo as bênçãos de Jahwéh.
– Abisaí, gostaria de agir consoante a lógica humana: quem faz o mal, paga-as; mas David, perdoa a Saul, por ele ser o “ungido do Senhor”. Pela mesma razão, nem o pior criminoso pode ser tratado de forma desumana ou condenado à morte… Cada homem é “ungido do Senhor” e a sua vida pertence a Deus.
Rezar a Palavra e contemplar o Mistério
Ó Deus da vida e do perdão… A Palavra, hoje, põe frente a frente duas formas de lidar com aquilo que agride e violenta: pagar na mesma moeda, ou a recusa em entrar numa espiral de violência, perdoando! Todos os dias nos deparamos com novas formas de violência… Senhor, que eu saiba olhar cada irmão, cada irmã, com o Teu olhar e os veja como Teus ungidos… e os saiba amar como Jesus me ama. Amem.
LEITURA I – 1 Sam 26, 2.7-9.12-13.22-23
Naqueles dias, Saul, rei de Israel, pôs-se a caminho
e desceu ao deserto de Zif com três mil homens escolhidos de Israel,
para irem em busca de David no deserto.
David e Abisaí penetraram de noite no meio das tropas:
Saul estava deitado a dormir no acampamento, com a lança cravada na terra
à sua cabeceira; Abner e a sua gente dormia à volta dele.
Então Abisaí disse a David: «Deus entregou-te hoje nas mãos o teu inimigo.
Deixa que de um só golpe eu o crave na terra com a sua lança
e não terei de o atingir segunda vez».
Mas David respondeu a Abisaí: «Não o mates.
Quem poderia estender a mão contra o ungido do Senhor e ficar impune?»
David levou da cabeceira de Saul a lança e o cantil e os dois foram-se embora.
Ninguém viu, ninguém soube, ninguém acordou.
Todos dormiam, por causa do sono profundo que o Senhor tinha feito cair sobre eles.
David passou ao lado oposto e ficou ao longe, no cimo do monte,
de sorte que uma grande distância os separava.
Então David exclamou: «Aqui está a lança do rei. Um dos servos venha buscá-la.
O Senhor retribuirá a cada um segundo a sua justiça e fidelidade.
Ele entregou-te hoje nas minhas mãos e eu não quis atentar contra o ungido do Senhor».