Rezar ao Espírito Santo torna-nos fortes na luta contra o mal

Quase no termo destes cinquenta dias de Tempo Pascal, fixemo-nos em dois excertos de um sermão de Santo António de Santo de Lisboa (1195-1231) pregado em Dia de Pentecostes: «O Espírito Santo é o sustento que nos reconforta no caminho para a pátria, é o vinho que nos alegra na tribulação, é o óleo que adoça as amarguras da vida. Faltava este triplo socorro aos apóstolos, que tinham a missão de ir pregar no mundo inteiro. Foi por isso que Jesus lhes enviou o Espírito Santo. E ficaram cheios dele – cheios, para que os espíritos impuros não pudessem ter qualquer poder sobre eles: quando um copo está bem cheio, não se pode pôr mais nada dentro dele». Com a sua habitual profundidade teológica, continuou a sua pregação: «O que o fogo natural faz com o ferro, faz o fogo do Espírito no coração malvado, frio e endurecido. Pela infusão desse fogo, a alma aparta de si toda imundície, insensibilidade e dureza, e se transforma à semelhança d’Aquele que a inflamou. Para isso é dado ao homem, para isso lhe é infundido: que, quanto lhe seja possível, a ele se configure. Graças ao abrasamento do fogo divino, o homem torna-se totalmente incandescente, arde por inteiro e se dissolve no amor de Deus, como diz o Apóstolo: “O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5, 5)».

O Papa Francisco baptizou trinta e três crianças na Festa do Baptismo do Senhor deste ano, no dia 11 de Janeiro, tendo deixado alguns conselhos a pais e padrinhos: «Todos os dias, ganhem o hábito de ler um pequeno trecho do Evangelho, pequeninho e levai sempre convosco uma pequena Bíblia no bolso, na mala, para poder lê-la. E isto será um exemplo para os filhos, ver o pai, a mãe, os padrinhos, avós, tios, lerem a Palavra de Deus», e prosseguiu: «Queridos pais, queridos padrinhos e madrinhas, se quiserem que as crianças se tornem verdadeiros cristãos, ajudem-nas a crescer mergulhadas no Espírito Santo, ou seja, no calor do amor de Deus, na luz da sua Palavra». Sublinhou ainda a necessidade de rezar ao Espírito Santo: «é necessário invocar com frequência o Espírito Santo, na vida em família».

Como não recordar, nestes dias de preparação próxima para o Pentecostes, a Catequese do Papa, na Praça de São Pedro, há precisamente dois anos: «Perguntemo-nos: “Estou aberto à acção do Espírito Santo? Peço para que Ele me traga luz, me torne mais sensível às coisas de Deus? Esta é uma oração que devemos fazer todos os dias:“Espírito Santo, abre o meu coração à Palavra de Deus; que o meu coração esteja sempre aberto ao bem e à beleza de Deus”. Gostaria de fazer a todos uma pergunta: “Quantos de vocês rezam todos os dias ao Espírito Santo?” Serão poucos, talvez, mas devemos cumprir esse desejo de Jesus e orar, todos os dias, ao Espírito de Deus. Invoquemos, mais vezes, o Espírito Santo para que nos guie no caminho dos discípulos de Cristo. Invoquemos todos os dias. Faço-vos esta proposta: invoquemos todos os dias o Espírito Santo, assim Ele nos aproximará, cada vez mais, de Jesus Cristo.

Guiados por Nossa Senhora, rezemos:

Veni Sancte Spiritus! Vem Espírito Santo, para que resistamos ao poder do mundo. Vê como somos fracos, como somos tímidos, e como as razões do mundo avançam na conquista dos corações dos jovens e dos menos jovens. Que poderemos fazer, se não vieres em nosso auxílio? Os nossos argumentos passam ao lado de muitos dos nossos contemporâneos, sem lhes beliscar a couraça das seguranças em que põem a sua confiança. Sem o teu Espírito, tornamo-nos como o sal que não salga, ou como a luz que não alumia. Sem o teu Espírito, corremos o risco de nos sentir defensores de uma causa perdida. Enche-nos do teu Paráclito, do teu Advogado, do teu Arguente, do teu Defensor, do teu Consolador, para que não fujamos à luta, não fiquemos desarmados, não nos afoguemos no difuso paganismo que nos envolve. Faz-nos profetas críticos deste mundo, profetas entusiastas do teu mundo, da tua verdade. Amen.

Cónego Armando Duarte.