Entrai, pastores, entrai… Começa assim um tradicional cântico, que o povo canta no Natal, junto ao Presépio. Aos simples e humildes, aos pequeninos e curiosos, aos que vigiam e esperam como os pastores de Belém, os Anjos, hoje, de novo, dizem cantando: Entrai! Só entra no mistério de Cristo, quem ousa deixá-lO entrar na vida, na família, no ambiente cultural, social, profissional… Deixando-O entrar, entramos n’Ele!

Mas, para que Ele entre e nós possamos entrar n’Ele, as portas devem escancarar-se e o caminho de acesso deve estar desimpedido. É sempre necessário remover algum obstáculo e dar um jeito na fechadura e nas dobradiças. Para isso serve o Advento!

Em cada ano, no aplanar do caminho e na lubrificação da fechadura – “trabalhos” a que João Baptista, um dos protagonistas do Advento, chama metanoia – devemos aprender com a protagonista principal aquilo que temos para fazer… A Senhora do Ó, da Expectação e da Esperança – os nomes vários da Senhora do Advento – nos ensinará como se espera e como se prepara a vinda do Emanuel, do Deus connosco.

Na sua solicitude materna, nos ensinará muitas coisas, mas há uma que S. João Paulo II aprendeu com Ela, e que nós não podemos deixar escapar… No Advento de 1980, já lá vão uns anitos, o Papa João Paulo II encontrou-se com mais de duas mil crianças numa das Paróquias de Roma. E começou a catequese assim:

– “Comos vos preparais para o Natal?”
– “Rezando mais” – responderam as crianças, gritando.
– “Muito bem, com a oração” – disse-lhes o Papa – “e também com a confissão. Tendes de vos confessar para depois poderdes comungar. Fá-lo-eis?”
E as centenas de crianças, ainda gritando mais, responderam:
– “Sim!”
– “Sim, deveis confessar-vos” – acrescentou João Paulo II. E, em voz mais baixa, acrescentou: “O Papa também se confessará para receber dignamente o Menino-Deus”.

Como chegaríamos à porta, se o caminho que a ela dá acesso estivesse impedido? Como se escancararia a porta se as ferragens estivessem perras de tanta ferrugem? Como entraríamos nós e como Ele entraria em nós se, pela confissão, o caminho não ficasse liberto e a ferrugem dos nossos pecados não fosse removida?

Cónego Armando Duarte